A análise de incorrecções ortográficas constitui uma etapa fulcral para que o professor tome consciência das dificuldades dos alunos e, assim, possa definir estratégias de intervenção, visando a superação das mesmas.
É extremamente importante que o professor, ao analisar os erros das crianças, não se limite a uma comparação entre o que escreveu e o que devia ter escrito. É necessário que compreenda o porquê do aluno ter escrito de determinada forma, pois só assim poderá compreender de onde derivam estas dificuldades e criar estratégias.
Se o professor se limitar à comparação das formas correcta e incorrecta, é natural que encontre casos de adições, substituições, omissões ou trocas de posição. Ainda assim, estes fenómenos não são suficientes para interpretar uma incorrecção, pois nem todos surgem pela mesma razão.
Na brochura O Ensino da Escrita: Dimensões gráfica e ortográfica, e partindo do que foi proposto por Barbeiro (2007), são enunciados aspectos de classificação das incorrecções, os quais iremos abordar de seguida.
Dificuldades na transição entre o sistema fonológico e ortográfico.
A transcrição da forma fonológica (oral) para a forma ortográfica (escrita) necessita que a criança domine os dois sistemas. As incorrecções que muitas vezes surgem são consequência da falta de domínio dos mesmos e podem ocorrer devido ao processamento de fonemas (segmentação, identificação e ordenação) ou à utilização de grafemas que não correspondem ao som que está em causa. Assim, as incorrecções apresentam, por norma, alteração da forma fonética da palavra.
É natural que o sistema fonológico da variedade linguística falada pelo aluno esteja já adquirido aquando a entrada do mesmo no 1º ciclo. Ainda assim, podem apresentar alguns problemas que se revelam no processamento efectuado, considerando as competências de segmentação, identificação e ordenação dos fonemas. Para que casos destes ocorram com menor frequência é necessário que a criança possua consciência fonémica que lhe permitirá identificar os fonemas das palavras. Assim, é essencial que o professor desenvolva actividades que lhes permita aperfeiçoar esta consciência.
Exemplos: salde – salada; farotas – frutas; aito - apito
Incorrecções por transcrição da oralidade corrente.
Este tipo de incorrecções pode ser facilmente caracterizado como a transcrição da forma como fala. Ou seja, o aluno escreve como fala.
De modo a possibilitar aos alunos ultrapassar estas incorrecções, o professor deverá:
“■ Reforçar a consciência de que em muitas situações, designadamente na oralidade corrente, pronunciamos as palavras segundo um registo menos cuidado;
■ Proporcionar o acesso a forma do registo cuidado, que geralmente constitui a forma fonológica de referência para a ortografia.”
(BAPTISTA e tal, s.d)
Através da prática destas acções, o professor estará a reforçar e desenvolver a consciência linguística dos alunos, através da focalização na forma fonética das palavras.
Exemplos de palavras com incorrecções deste tipo: expriência – experiência; auga – água; bibrão – biberão.
Incorrecções por inobservância de regras ortográficas de base fonológica.
As regras ortográficas poderão ter na sua base os aspectos contextuais, ou seja combinação com outros sons que precedem ou seguem, e acentuais, que se traduzem essencialmente na posição da tónica ou átona.
No entanto, estas incorrecções são relativas, neste ponto, aos aspectos contextuais, sendo que os aspectos acentuais serão tratados de forma individualizada.
De modo a perceber o que são as regras contextuais enunciaremos dois exemplos das mesmas:
- Utilização do som antes de
ou ;
- Representação do som [R] pelo dígrafo , quando se situa entre duas vogais.
As regras diferem na perspectiva escrita e na perspectiva da leitura, pois, na leitura, é possível converter um grafema num determinado som, no entanto tal não significa que se dê o mesmo caso na transcrição do som para a escrita, pois em alguns casos o mesmo som pode ser grafado com letras diferentes.
Casos como este, necessitam, indubitavelmente, ser memorizados, pois não há regra que dite a utilização de um dado grafema numa dada palavra, quando o som representado é o mesmo. Assim a única alternativa é fixar a forma escrita da palavra.
Exemplos de incorrecções desta natureza: caro – carro; jelo – gelo; comerão – comeram.
Incorrecções por inobservância de regras ortográficas de base morfológica
Incorrecções quanto à forma ortográfica específica das palavras.
Estas incorrecções surgem, essencialmente, quando é utilizada uma palavra cuja sua forma correcta não é previsível por regras e a sua aprendizagem dá-se por via directa ou lexical, ou seja por memorização.
Um dos casos originários destas incorrecções prende-se com o facto de as crianças criarem regras a partir de associações entre a família das palavras e das características ortográficas.
Exemplo: viajar – viajem / viagem.
Incorrecções de acentuação gráfica.
As incorrecções em questão, tal como o nome indica, situam-se ao nível da utilização inadequada de acentos, ou da inexistência dos mesmos.
Exemplos: agua – água; álmoço – almoço; país – pais.
Dificuldades na utilização de maiúsculas e minúsculas.
Naturalmente, este tipo de incorrecções refere-se à má aplicação de maiúsculas e minúsculas, tanto ao nível do critério referentes (nomes próprios, países, cidades, entre outros), assim como ao nível da organização de frases no texto (utilização da maiúscula no inicio de um período).
Exemplos: josé; barreiro; “a minha mãe é bonita”; “ O Joaquim é Fiel”.
Incorrecções por inobservância da unidade gráfica da palavra.
Quando chegam ao 1º ciclo, espera-se que as crianças já sejam capazes de segmentar ou dividir palavras das frases. No entanto existem combinações de palavras que devido às suas características de utilização podem gerar incorrecções.
Estas incorrecções podem revelar-se em três tipos:
• Junção de palavras. Exemplo: derrepente – de repente
• Separação da palavra. Exemplo: de pois
• Utilização ou ausência do hífen. Exemplo: guarda chuva.
Note-se que a aprendizagem de algumas regras, principalmente de utilização do hífen, apresenta dificuldades ao nível do 1º ciclo.
Incorrecções ao nível da translineação.
No nosso sistema escrito, as regras de translineação tendem a reger-se pelas divisões silábicas, no entanto existem casos em que tal está incorrecto. Ao nível fónico, a divisão de uma palavra está ligada com as sílabas da mesma, independentemente da sua constituição. Ao nível escrito tal já não acontece, sendo que em casos de palavras que tenham na sua constituição um dígrafo, a translineação aplica-se através da separação desse dígrafo. Assim os dois grafemas que o constituem separam-se permanecendo o primeiro na linha respectiva e o segundo na linha seguinte.
De seguida, apresentaremos algumas classificações de erros realizadas pelo grupo e pela turma em contexto de sala de aula.
Note-se que classificar erros não é tarefa fácil. Existem situações em que a dúvida persiste, pois algumas incorrecções dadas pelos alunos poderiam facilmente esconder o verdadeiro significado, por isso é necessário observá-la muito bem e reflectir acerca do que a poderá ter gerado, tendo em conta o conhecimento que tem do aluno, a fim de categoriza-la correctamente.
Bem Hajam!
Ana e Inês
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Bibliografia consultada:
BAPTISTA, Adriana; et al (s.d). O Ensino da Escrita: Dimensões gráfica e ortográfica. PNEP
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